quinta-feira, 7 de agosto de 2008

[há muito tempo]
- a gente tem de fazer uma parada juntos no bailinho. eu penso numa coisa meio correio do amor,tipo festa junina, saca?
confesso que a principio não me encantei muito, não entendia muito o que o rodrigo queria:
- beleza, vamos fazer sim - disse vendo ele mexer no ipod
E veio o primeiro dia. A gente se reuniu na casa dele antes da festa pra detalhes do que seria realmente esse tal de correio do amor. E veio o primeiro dia e seis gatos pingados apareceram no mistura pra ver um belo pôr do sol no arpoador.
Esse foi o primeiro dia. Foi bem desanimador. Mas os domingos se sucederam e não é que os seis gatos pingados se multiplicaram...
[tempo depois]
- cara, a gente pára no domingo que vem. preciso de férias. Muita coisa, muita gente, muito tapinha nas costas.muito tudo. A gente precisa dar uma pardinha.
Confesso que a princípio não me encantei muito com a idéia. Afinal de contas a festa estava num momento brilhante, com filas e filas na porta e segundas feiras de folga e ressaca, mas compreeendi a sabedoria da parada.
[ultimo dia]
Os domingos nunca foram tão divertidos.corro pra lá, cola frase no banheiro. Cola frase no chão da escada.
- Tatááááááááá- me grita la debaixo o Rodrigo. Eu tava no meio da correria fazendo uma amarelinha no chão, correndo cheio de fita crepe na calça e com uma caneta gigantesca de escrever no espelho.
- fala rodrigão – gritei la de cima.
- Tatáááááá- sim, ele gosta de gritar o meu nome – desce aí quando puder.
Depois de um tempinho desci correndo já querendo voltar pras coisas que eu tinha de fazer la em cima. O cara só me deu um abraço demorado e falou:
- tamu junto cara! tá? Quero você junto onde esse baile for...
Confesso que nunca fui muito de domingos.confesso que nunca fui muito de receber ordens.confesso que nunca fui muito de produzir coisas.confesso que nunca fui muito de abraços.confesso que nunca quis fazer festas.confesso que porra, sou ator. Queria estar no palco, criando,construindo.confesso tudo isso agora e com um sorriso no rosto.
Aprender que a nossa arte, o artista se faz no dia a dia. No pensamento.num pensar o mundo. Numa frase do Fernando Pessoa que alguém tira foto e leva pra casa.numa partícula de poesia que surge no espelho do banheiro feminino.um duchamp incompreendido na subida da escada. Uma jujuba oferecida numa cidade em caos. Uma plaquinha escrita Love is in the air no meio da guerra civil.um Picasso em Xerox que alguém crê. numa citação do quintana que toque alguém,uma pessoa que seja.no pensar durante a semana qual será o portal do banheiro e por que. é fazer amarelinha de fita crepe no chão.e ainda “correiar” alimentando os encontros nesse mundo em que as pessoas se isolam nas suas pequenas redomas.
é.....
é correr escada a cima e abaixo com o Rodrigo gritando: - sete horas, vamu abrir!
E vem o terceiro sinal. As portais se abrem. E o espetáculo enfim, começa.
E a volta está perto, porque
O show não pode parar

(Tatá - O elegante)

- Sim, a Volta está perto, caro poeta -

2 comentários:

Flávia Prosdocimi disse...

Me emocionei... tenho foto de uma frase na cabeça. e estrelinhas prateadas que nunca consegui tirar por completo da bolsa. o que emociona nesse baile, é que ele é feito por gente querida. gente rara. gente do bem. aguardo ansiosamente a volta. com uma saudade no peito e um sorriso no rosto. beijos

Super disse...

confessa aí. seus olhos também marearam naquele abraço. assim, ó.